20 de abr. de 2007

Entrevista com Lúcia Hiratsuka

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Na minha infância, duas colônias de imigrantes influenciaram profundamente a minha maneira de ser: os italianos e os japoneses.
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Família Miata
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No sítio dos Kavashimas, dos Miatas e dos Viziolis, passei momentos mágicos entre os banhos nos córregos, a mesa farta, a maneira generosa de compartilhar o afeto.
Por isso estou muito feliz com a visita de Lúcia, uma escritora que conheceu um lugar importantíssimo da minha infância - a estação de trem de Pacaembu .


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O trem que ia para a capital, cruzava a cidade e dividia os meus dias, me ajudava a controlar as horas. Das suas janelas eu vi passar o mundo pelos meus olhos .
Mas essas histórias sobre a minha infância ficam para outra hora, agora vamos conhecer as histórias de Lúcia Hiratsuka:
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Lúcia Hiratsuka

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ENTREVISTA
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Onde você nasceu e como era a sua cidade?
Nasci num sítio, na região conhecida como “ASAHI” (sol da manhã em japonês). Perto de fazer 10 anos, eu me mudei para Duartina, uma pequena cidade no interior de São Paulo, com uma praça bonita, quase todas as ruas calçadas em pedra sabão. Essa cidade já foi conhecida como a “Capital da Seda”.

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Como foi a sua infância?
Brinquei muito no quintal da minha casa. Ali eu dava milho para as galinhas, subia na mangueira, brincava com meus irmãos, e desenhava muito no chão de terra, ou nas paredes do ranchinho usando o carvão. Também lembro de ter aprendido algumas cantigas e ouvido muitas histórias contadas pela minha avó.
E tinha algumas obrigações. Ia catar ovos, varria a casa, ajudava a lavar as louças.
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Como era a escola onde você estudou?
Antes de entrar na escola, o meu avô me ensinou a ler e escrever em japonês. E quando fiz sete anos, comecei a ir para a escola rural. Acordava muito cedo porque precisava caminhar durante uma hora. Mas era gostoso. Eu e mais algumas crianças do vizinho íamos conversando, cantarolando, chutando pedrinhas; de vez em quando comíamos todo o lanche no caminho.
Na quarta série eu me mudei para a cidade e a partir daí estudei na Escola Municipal de Duartina.
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Quais eram os livros que você gostava de ler?
Naquela época era muito mais difícil ter acesso às bibliotecas e livrarias. Por sorte, na minha casa tinha muitos livros porque o meu avô e a minha mãe gostavam de ler. Mesmo quando eu não sabia ler, a minha mãe, no pouco tempo que ela encontrava entre cuidar da casa, ajudar o meu pai a criar bicho-da-seda, lia para mim e meus irmãos.
O meu pai assinava uma espécie de revista japonesa (parecia mais um livro, muitas páginas, com lombadas grossas) que vinha um pouco de tudo. Contos clássicos, biografias, acontecimentos históricos, mangás e algumas brincadeiras como adivinhas, palavras cruzadas. .
Quando você era criança, já sonhava em ser escritora?
Eu vivia desenhando, sonhando trabalhar com desenho um dia. Hoje, lembro que os meus desenhos gostavam de contar histórias. E algumas vezes desenhava em forma de quadrinhos, colocando textos.
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Quando você começou a escrever?
Nessa época que ainda morava no sítio e tentava contar uma história com desenhos, eu escrevia em japonês, mais por causa das referências de livros que tinham em casa.
Acho que pensar objetivamente em escrever uma estória para virar um livro, foi quando comecei a ilustrar; isso foi depois que me formei na Faculdade de Belas Artes de São Paulo.
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Qual foi o primeiro livro que você escreveu?
Para conseguir o meu primeiro trabalho de ilustração, eu criei uma estória e mandei para uma editora. E foi aceito. Isso aconteceu por volta de 1984. Mas eu me dediquei boa parte do meu tempo para as ilustrações. Atualmente, penso que o meu trabalho é pensar em um projeto, seja com desenhos, com palavras, e principalmente misturando essas duas linguagens.
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Por que você escreve?
Escrever ou desenhar, sempre, porque eu gosto, é um prazer. Nem sempre são momentos tranqüilos. Às vezes o trabalho não flui, fico ansiosa, sinto insegura, mas isso também é parte de um processo.
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Alguma história que você escreveu já aconteceu de verdade?
Mesmo partindo de um acontecimento real, depois de escrito, aprendi que a história precisa se tornar independente, ter vida própria. Muitas vezes ficamos presos nos fatos e a narrativa não se desenvolve muito bem. Aí entra o trabalho de ficar lendo, relendo, lapidando o texto. Ou muitas vezes, deixar adormecer um tempo.
Por outro lado, o ponto de partida está em mim mesmo, nas coisas que me encantam, nas minhas perguntas, nos meus medos e inquietações...
Agora estou escrevendo uma história que me inspirei num episódio real que a minha mãe me contou. Mas isso é só um início, a própria história vai se desenvolvendo, transformando. Ao menos é isso que eu espero e tento, nem sempre consigo. O importante é não se acomodar nunca.
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Qual o poema de Cecília Meireles que você mais gosta?
Acabei criando um carinho especial por aqueles que eu já ilustrei:
“O menino azul” (para crianças), “Lua adversa” , “Canção do Campo”e “Canção Excêntrica” (esses fazendo parte de coletânea de poemas).
Também quero citar : “Colar de Carolina” e “Retrato”. Gosto muito de Cecília Meireles.
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O que você gostaria de falar para as crianças que freqüentam esse blog?
Talvez eu possa enviar um desenho?
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Alguns dos seus livros :
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.O abanador mágico do Tengu
O casamento da ratinha
Urasnhima Taro: a história de um pescador
Contos das Montanhas
Um rio de muitas cores
Lin e o outro lado do bambuzal
Um chá na casa de Dona Lalá
Um passeio diferente
De quem são as pegadas?
Contos e lendas do Japão

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http://www.luciahiratsuka.com.br/
http://caracol.imaginario.com/autografos/luciahiratsuka/index.html


3 comentários:

Anônimo disse...

Como era o nome da revista que o seu pai assinava Lucia ?

Anônimo disse...

lucia ja nos vimos antes na escola Santa Marina eu sou a Rafaela que tem 6 livros seus , você lembra de mim ?

Anônimo disse...

Eu te adoro !!!!!!!!!!!
Eu sou a mesma pessoa que escreveu esses 2 recados ai em cima